Atletas do palco
A humanidade sempre dançou. O movimento de corpos acompanhando o compasso de uma música está enraizado em todas as culturas do mundo, existentes ou já extintas. A expressão corporal através da dança pode se relacionar à identidade de uma cultura, a uma manifestação artística e sentimental, mas, além disso, a dança é uma forma de sociabilidade e também um esporte.
Não é incomum que os pais procurem atividades físicas para ajudar no desenvolvimento social de seus filhos pequenos, unindo a prática saudável com a necessidade das crianças em envolverem-se umas com outras, estimulando a imaginação e os movimentos corporais.
Assim como a escolinha de futebol, as academias de dança também podem exercer esse papel de desenvolvedor físico e comunicacional. Porém, o futebol ou o vôlei, por exemplo, são comumente trabalhados nas escolas primárias, enquanto que a dança aparece apenas em datas comemorativas ou nunca.
Foi pensando nessa ausência da dança no ambiente escolar que a professora e dançarina de salão Nilza Coqueiro Pires de Sousa está desenvolvendo uma pesquisa de doutorado, pela Unesp, “O ensino da dança na escola na ótica dos professores de Educação Física e de Arte”, a fim de investigar as limitações do ensino.
A pesquisa tem procurado identificar qual a postura e o nível de conhecimento dos professores de Educação Física e de Arte quanto ao ensino de dança e analisar o conteúdo sugerido nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas. Em entrevista ao Repórter Unesp, Nilza conta que a prática está presente nos currículos das escolas públicas; no entanto afirma que existe uma lacuna na formação dos professores, os quais, muitas vezes, não vivenciaram em sua própria infância o ensino da dança.
Segundo ela, normalmente as escolas recorrem à dança somente em eventos festivos, visando apenas ao produto final, sem que se faça um trabalho contextualizado da atividade. “Minha proposta é trabalhar a dança de uma maneira processual. O professor tem que estar atento e fazer adaptações durante a aula para que todos participem independente do nível de cada um.”
Nilza explica que todos os alunos têm o direito de experimentar a dança de maneira diversificada e com objetivos claros, além de ressaltar que a escola é um local privilegiado para isso. Para ela, as crianças precisam saber o que estão fazendo, sendo necessário explicar a elas o objetivo de cada aula para que assim entendam os conceitos na prática, na vivência.
Pé de atleta, pé de bailarina
De acordo com a professora de dança contemporânea Merene Lobato, o ato de dançar pode ser entendido como manifestação artística e também como prática esportiva. A dança parte de treinamentos como todo esporte e segue fundamentos complexos; além disso, existem os festivais que, como qualquer competição, exigem do competidor um preparo físico semanal e o cumprimento de uma rotina de treinos.
“Os bailarinos também são atletas; a dança requer preparações físicas. Um bailarino que vai para competição já está com preparo semanal, trabalho cardiorrespiratório etc”, afirma.
Existe uma preocupação comum sobre as “regras” do biotipo adequado para ser um dançarino. Merene, no entanto, comenta que os padrões corporais estão passando por um momento de mudança e flexibilidade. O padrão das bailarinas de corpo longilíneo tem cedido espaço para as que possuem um biotipo com mais curvas: “Nunca se pode dizer se a pessoa vai ter talento antes que ela passe pela puberdade. Às vezes a bailarina pode não ser magra, mas ela tem uma ótima expressão, uma boa desenvoltura”.
Não restam dúvidas do caráter da dança como uma manifestação cultural e artística, que permite a expressão de sentimentos e emoções, como lembra a professora Nilza. Por meio da linguagem corporal, é possível desenvolver as capacidades – em especial das crianças – física, artística, intelectual e afetiva. “A dança propicia um desenvolvimento integrado”, afirma. Atrelado a esses aspectos de desenvolvimento humano também está o ganho para a saúde de nosso corpo, características próprias de todos os esportes.
Reportagem: Marina Rufo Spada
Produção multimídia: Amanda Moura
Edição: Victor Rezende
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