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V de Vida

A cultura vegetariana e vegana de respeito aos animais

Somos 7 bilhões de pessoas no mundo e, em geral, temos uma cultura onívora. Comemos vegetais, mas dependemos muito dos produtos de origem animal. Em 2100, poderemos chegar a marca de 11 bilhões de indivíduos, de acordo com estudos da Organização das Nações Unidas (ONU). E se já não conseguimos alimentar a todos, por conta do desperdício e da cadeia produtiva, isso se tornará cada vez mais difícil. A agricultura terá que elevar sua produção em mais de 70% e o alto consumo de carne, que já é um fator problemático nos dias de hoje por utilizar mais de 11% da água potável mundial e ser um dos responsáveis pelo efeito estufa, agravará a situação do planeta.

Se tomarmos o caso brasileiro, são milhares de animais abatidos no país por minuto para que possamos consumir carnes, leite e ovos e isto se torna inaceitável para aqueles que começam a seguir uma dieta alimentar vegetariana ou que mais ainda, excluem qualquer vestígio animal (desde comida até roupas) da sua vida, que é o caso dos veganos.

A preocupação com o planeta vai além das estimativas e dos problemas ambientais: ser vegetariano ou vegano se torna uma filosofia e uma militância, o respeito aos animais ou a qualquer tipo de vida acaba por gerir a vida de certas pessoas.

 

DE ONDE SURGIU?
Em 1944, Donald Watson e outras 5 pessoas, ex-membros da Vegetarian Society,
se juntaram para fundar a Vegan Society. Eles sentiram necessidade de criar uma
nova palavra para descrevê-los e criaram o termo vegan, formado das três primeiras
letras e as duas últimas letras da palavra vegetarian.

 

Ovolactovegetarianismo: Não ingere carne, mas utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.
Lactovegetarianismo: Não ingere carne, mas utiliza leite e laticínios na sua alimentação.
Ovovegetarianismo: Não ingere carne, mas utiliza ovos na sua alimentação.
Vegetarianismo estrito: Não ingere carne e não utiliza nenhum ingrediente de origem animal
na sua alimentação.
Veganismo: Não ingere e não utiliza nenhum produto de origem animal
ou que seja testado em animais.

 

“Eu assisti um documentário chamado Terráqueos e vi como o ser humano maltrata os animais. A gente tenta resolver os nosso problemas se apoiando em um animal, a gente joga a conta neles. Me tornei vegano por culpa (…), eu não conseguia dormir com essa culpa” afirma Lucas Fernandes.

Lucas é vegano há 1 ano e 6 meses, mas se considera quase vegetariano desde criança, por ter aprendido a comer carne mais velho. É o que está acontecendo com Mario Cesar Ito, que há 9 meses começou a cortar produtos de origem animal da sua alimentação, mas ainda não conseguiu se desfazer do peixe em sua dieta.

Não existe uma forma mais fácil ou mais difícil para se tornar vegetariano ou vegano, alguns cortam todos os alimentos de uma vez, outros aconselham a ir eliminando aos poucos. Ana Beatriz Pístola tem 21 anos e é vegetariana há 5. Ela nunca gostou muito de carne vermelha, então não teve dificuldades em eliminá-la da sua rotina. Já o peixe e a chamada junk food foram eliminados aos poucos.

Beatriz pretende se tornar vegana, no entanto diz que ainda tem muitos desejos que não conseguem ser supridos e precisa de tempo. Além disso, ela aconselha aqueles que não tem costume de ingerir produtos de origem vegetal, a começar ingeri-los para depois ir eliminando os produtos de origem animal, assim a transição se torna menos complicada.

Foto: Bibiana Garrido

Foto: Bibiana Garrido

 

O dia-a-dia

O Brasil ainda tem um déficit de produtos nessa linha em relação a outros países. A cultura do vegetarianismo e do veganismo parece estar em alta agora e as iniciativas de restaurantes, produtores independentes e lojas especializadas vem crescendo aos poucos.

É o caso do restaurante Essência Oriental, situado em Bauru, interior de São Paulo. O estabelecimento foi criado em 2012 por uma família taiwanesa e busca difundir uma alimentação saudável, vegetariana e que leve em consideração a essência da vida. Segundo seus responsáveis, eles não visam o lucro em si, querem ajudar em mudanças nos âmbitos social, ambiental e da saúde. Uma iniciativa muito interessante é que todos os dias após às duas da tarde, a sobra de comida é doada a qualquer morador de rua que passe no local.

Já Kamila Feldenheimer é uma produtora independente. Logo após largar seu emprego, resolveu começar a cozinhar e vender seus pratos por encomenda, o que a motivou a virar vegana.

“Na Europa, nos restaurantes os pratos vegetarianos e veganos vem com um selo que os identifica assim. No Brasil, nas cidades do interior é difícil porque não tem muitas opções de restaurantes. Eu vou nos lugares e tenho que preparar minha própria comida”, conta Fernanda Lima, vegetariana há 8 anos e quase vegana.

Para Raiane de Almeida, a cidade em que mora, Marília – SP, não consegue suprir certas necessidades em relação a produtos de beleza, o que impede que ela consiga se tornar totalmente vegana.

 

O que se aprende conversando com vegetarianos e veganos é que tudo é substituível. Eles se juntam em grupos de discussão nas redes sociais, criam sites para esclarecer dúvidas, publicar informações e acabam se ajudando. Em sites como o da Sociedade Vegetariana Brasileira e Veggi e Tal, eles publicam várias receitas, além de diversas informações sobre os temas. “Eu aprendi a fazer meu próprio queijo: eu uso essência de queijo, uso goma de xantana, a textura fica parecida e o gosto bem próximo” diz Lucas Fernandes.

 

 

Um mito

Muitas pessoas acreditam que a alimentação sem carne não consegue suprir necessidades fisiológicas do corpo humano. Mas o relato dos entrevistados é unânime quanto às melhoras na saúde. Beatriz afirma que no começo sentia um pouco de cansaço físico e perda de músculos, mas que logo percebeu uma série de benefícios. Algumas pessoas não se acostumam muito bem com as mudanças de hábito e desistem de seguir esta dieta, que talvez seja muito mais fácil para aqueles que tem a filosofia de vida bem enraizada em suas mentes.

Guilherme Rodrigues faz parte da comunidade vegetariana há mais de 4 anos e procura ter acompanhamento médico frequente, mas nunca mais ficou doente e se sente mais disposto. Lucas também descreve essa melhora na sua disposição e no seu dia-a-dia. Ele, dentro da sua dieta vegana, aderiu ao crudivorismo por vinte dias. Neste período, só podia consumir frutas, legumes crus, ou seja, alimentos frescos. Após a experiência teve a sensação que seu “corpo descarregou”, fluiu como nunca.

Outros benefícios indicados por estudos e pesquisas mostram a redução no risco de doenças cardíacas, cânceres e diabetes.

Praticidade e Economia

De certo ponto de vista, ter um dia a dia mais saudável parece caro e a correria impede com que se elimine as comidas processadas e os vestígios animais. Na opinião de Fernanda, é muito fácil comprar algo sem saber de onde veio. Ela acha que as pessoas não pensam sobre o que estão consumindo.

Mas existe uma questão essencial, as empresas não nos dizem tudo sobre a procedência de seus produtos. Nomes científicos e informações mascaradas são um problema para entender o que se está consumindo.

 

Foto: Bibiana Garrido

Foto: Bibiana Garrido

 

No entanto, muitos vegetarianos e veganos não consideram complicado encontrar tais dados, porque eles acabam automaticamente lendo e pesquisando muito sobre. Raiane diz estar acostumada a pegar uma embalagem e já ler o que tem no rótulo. Mesmo assim, a praticidade é outro fator positivo que todos entrevistados apontaram. Eles afirmam que não gastam mais tempo na cozinha e muito menos no bolso. David William vai contra essa opinião, para ele a dieta vegetariana acaba sendo mais cara. Mas o que se pode perceber é que a maioria das pessoas tem um espírito de ”faça você mesmo”, o que acaba barateando a dieta em relação aos produtos industrializados, que exigem um processamento mais elaborado e encarecem o resultado final, até porque a linha de mercadorias vegetarianas e veganas ainda não é tão comum no país.

 

Leia mais:

http://fomedeque.questtono.com.br/

http://www.forksoverknives.com

www.cronometer.com

 

Reportagem: Amanda Fonseca

Produção Multimídia: Bibiana Garrido

Edição: Marina Moia

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