Chegou a hora da fogueira, é noite de São João
É início de junho. Começam a aparecer as bandeirinhas em igrejas, escolas, clubes e lugares para socialização. São umas seguidas das outras, agrupadas num barbante, nas cores mais diversas e feitas com papel de seda
O mês começa a andar. Canções, com uma melodia repetida, passam a ser escutadas em vários lugares e servem de base a uma narração que nem sempre acompanha o ritmo da música tocada. Chega-se, então, ao 12 de junho: dia dos namorados, data em que não somente os apaixonados fazem suas comemorações, como também o comércio, já que essa é uma das cinco datas mais importantes para vendas, segundo a Serasa Experian.
Mas o comércio já está supostamente aquecido: 13 de junho é logo ali. Dia de Santo Antônio. A venda de pães, bolos e até de imagens do santo para a realização de simpatias pelos que acreditam no “casamenteiro” já começaram. Além disso, as quermesses são organizadas pelas igrejas brasileiras, na grande maioria, nessa época. Comidas à base de milho, quentão, vinho quente, doces em geral. Tudo para que em 24 de junho, dia de São João Batista, seja acendida em alguns lugares a fogueira, que pode ser caracterizada como o principal símbolo da época. Afinal, “São João, São João, acende a fogueira do meu coração”. Já no fim do mês, São Pedro, com as chaves do céu, encerra as festividades juninas.
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As festas juninas chegaram ao Brasil ainda no Período Colonial como herança dos portugueses. A tradição do evento é ligado à Igreja Católica, que tem três datas como as principais para suas comemorações: os dias de Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho). “É interessante notar que não apenas o dia propriamente dito, dos santos, mas todo o mês é considerado como tempo consagrado a estes santos na região e, principalmente às vésperas, que é quando se realizam os sortilégios e simpatias, a parte mágica da festa, típica do catolicismo popular”, relata a pesquisadora Rita de Cássia Amaral em sua tese de doutorado, “Festa à brasileira”.
Por que Antônio, João e Pedro?
“Existe uma gama de santos, mas entre esses existem aqueles que são mais populares, mais conhecidos. João Batista é aquele que batizou Jesus, aquele que conviveu com Jesus; São Pedro foi o primeiro papa, aquele que recebeu as chaves da igreja; Santo Antônio foi um jovem português que se torna popular por ser um grande pregador”, explica o padre Paulo Tavares de Brito, pároco da igreja São João Batista e Nossa Senhora de Lourdes, em Bauru. Como Antônio e Pedro têm suas mortes celebradas em junho, assim como a natividade de João Batista, as festas da Igreja Católica acabaram por consolidar as datas junto aos festejos populares.
Já de acordo com a pesquisadora Rita de Cássia, “apesar da religiosidade envolvida, a maior atração, que faz com que todos se reúnam (mesmo os não-católicos) para comemorar as festas juninas são, de fato, as fogueiras, batatas-doces assadas, canjica, quentão, milho verde assado, pipocas, quadrilhas, bumbas-meu-boi, simpatias, fogos de artifício, bombinhas e brincadeiras, enfim, toda a alegria que envolve estas festas”.
Ainda segundo o padre Paulo Tavares de Brito, “os santos eram pessoas comuns que, em um dado momento de suas vidas, se dedicaram única e exclusivamente a servir a Deus”. Assim, de acordo com os preceitos do catolicismo, é comum que cada santo tenha uma oração específica que serve de intermediária na relação entre a pessoa e Deus.
Além das orações, são comuns símbolos em celebrações e fora delas como características para uma melhor interpretação dos códigos religiosos e da própria história de eventos como as festas juninas. É o caso do mastro com as imagens dos três santos, do bolo e da fogueira de São João.
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Missão 2.0
Se as festas juninas, hoje em dia, seguem um perfil de maior confraternização entre as pessoas independentemente da religião, isso se deve à maior difusão dessas festividades. É bastante comum ver as comemorações juninas no fim do mês de junho, mesmo quando se tem pouca ou nenhuma ligação com o universo que abarca as tradições juninas em si. As festas juninas, então, passaram a ter uma segunda missão: a de angariar fundos.
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Escolas – públicas e privadas – clubes, templos religiosos, dentre outros grupos e instituições, trabalham nessa segunda missão para suprir suas necessidades, conquistar melhorias de serviços, trabalhos de característica social ou mesmo com a intenção de obter lucro. Assim, a economia em junho gira em torno desses festejos, com atenção especial para o setor alimentício. Não surpreende que os preços de comidas típicas dessas comemorações tenham tendência de alta nessa época do ano.
O quadro abaixo apresenta uma média de gastos e de lucros obtidos pelas escolas paranaenses com a realização de festas juninas. A partir desses dados, é possível notar ao menos um dos motivos que levam escolas e instituições de ensino a realizarem eventos comemorativos, como os festejos de junho.
Assim, houve uma “nacionalização junina” ao decorrer do tempo, fenômeno que já estava sendo estudado desde a década de 1990, pela professora Rita de Cássia Amaral. A pesquisadora, em sua tese “Festa à brasileira”, já comenta que mesmo os não-católicos comemoram as festas juninas, dissociadas ou não de símbolos da tradição católica.
Reportagem: Marília Garcia
Produção multimídia: Victor Rezende
Edição: Marina Rufo Spada