Tempo de santos e simpatias
As simpatias fazem parte das tradições típicas das festas juninas e fazem a conexão entre a crença religiosa e a cultura popular brasileira
Não apenas de quadrilhas e quitutes a festa junina é feita. Há rituais e tradições que têm início antes mesmo das festanças. As simpatias são um exemplo disso. Na sabedoria popular, elas surgem com o desejo de atingir algum objetivo, seja descobrir o nome do futuro cônjuge ou ganhar dinheiro.
Um dos santos mais requisitados no período de festas juninas é Santo Antônio. Famoso por ser perito nas causas amorosas, sua imagem “sofre” com as mais diversas simpatias. Ele pode ser colocado de cabeça para baixo, dentro do congelador ou de um copo de água e até mesmo ter o menino Jesus retirado de seu colo até que o solteiro de plantão encontre um pretendente para casar. Outras simpatias mais brandas envolvem as medalhinhas do santo, que são colocadas nos bolos vendidos nas festanças do padroeiro.
Ao mesmo tempo em que alguns solteiros fazem as mais diversas simpatias para Santo Antônio, há quem considere a tradição um pouco cruel com as imagens. Quelli Costa nunca procurou simpatias e diz que não teria coragem de fazer algumas delas. “Eu morro de dó de saber que o povo vira o pobrezinho do santo de ponta cabeça”, comenta.
Casada com Adilson Viana, Quelli pode não ter procurado pelas simpatias, mas elas não estiveram fora de sua vida. Sua sogra Isanete mora em São Carlos, interior de São Paulo, frequenta todos os anos as missas de Santo Antônio e por muito tempo manteve o costume de levar o bolo da tradicional festa do santo para os três filhos. Quelli acredita que a fé foi tão grande que todos eles se casaram no mesmo ano.
Juliana Moreira conta que não conhece muitas simpatias, mas reconhece Santo Antônio como o “vencedor” quando o assunto é casamento. Ela acredita que as simpatias são cultivadas nas famílias e, por essa razão, são feitas até hoje. “Eu acho que vai continuar sempre essas histórias assim. Faz parte da cultura do brasileiro”, completa.
Há também pessoas que não acreditam em simpatias, mas não deixam de ajudar os amigos solteiros a encontrar o amor. A terapeuta ocupacional Ellen Mutam escolheu o dia de Santo Antônio como data de seu casamento. Ela organizou a cerimônia com vários detalhes que o colocasse em evidência, como os bonecos que as damas de honra levaram e as fitinhas dos bem casados. Ela não se diz devota do santo, mas acredita que as pessoas procuram as simpatias como uma forma de ajuda. “Nunca fiz simpatias, mas ajudei as amigas solteiras colocando os nomes delas na barra do vestido”, comenta Ellen.
Mas não é apenas Santo Antônio que recebe todos os pedidos e promessas das pessoas em tempos de festas juninas. São Pedro e São João também têm seus devotos, muitos deles à procura de proteção, alegria, longevidade e dinheiro.
A posição da Igreja sobre simpatias
Para o blog da Canção Nova, o professor Felipe Aquino comentou que a Igreja Católica é a favor de homenagens aos santos, a exemplo das novenas e das imagens. No entanto, as simpatias são consideradas superstições. De acordo com o Catecismo, “a superstição é um desvio do culto que rendemos ao verdadeiro Deus. Ela se mostra particularmente na idolatria, assim como nas diferentes formas de adivinhação e de magia” (Cat. §2138).
O padre Giuliano Alamino também acredita que as simpatias não fazem parte da doutrina da Igreja. Para ele, há uma confusão por parte dos devotos na interpretação dos santos como modelos a serem seguidos e intercessores. “São muitas lendas em torno das histórias dos santos juninos que devem ser banidas do contexto da fé cristã”, completa.
Por outro lado, há também o pensamento de que as devoções juninas são importantes por reforçar a proximidade entre devotos e Deus. Segundo o padre Gustavo Mota, “a Igreja entende que são devoções populares, que podem remeter a riquezas espirituais profundas e vivas. Ela vê a possibilidade de uma profunda evangelização a partir destes festejos e ritos”.
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Reportagem: Giovanna Hespanhol
Produção de multimídia: Ana Oliveira
Edição: Marina Rufo Spada