Temperatura relativa
Relatos da vida noturna na fria Bauru de um feriado
1ª noite – pizza, vinhos e samba
Quinta-feira, dia 9 de Julho, são dez da noite e o frio já está à espreita atrás da porta para tirar o calor de qualquer corpo que encontre. Corpo que, por sua vez, está coberto de roupas, não sei se de lã, ou de qualquer outro material resistente ao frio. A questão aqui é uma só, amigos! O que fazer em pleno feriado na cidade sem limites com um frio digno de cachecóis e luvas?
A resposta mais simples e direta seria ficar em casa com as cobertas sobre o corpo e o copo quente embaixo delas. Claro que com um filminho, um livrinho ou qualquer outro tipo de entretenimento sedentário, um daqueles realizados com mais normalidade no inferno…ops, inverno! Trinta minutos depois e um dilema da importância do frio desses dias não deixava meus pensamentos: fico em casa com o frio ou saio para pegá-lo?
No meio de toda essa confusão, eis que um som padronizado e interessante não parava de ressoar por toda a casa (sob as condições de frio de Bauru o som se propaga mais rápido), eis que era o solitário telefone que já estava na família há muitos anos e nunca reclamou de nada.
Do outro lado da linha surge a voz de um amigo! “E aí Vini? Tudo nos conformes? Qual a boa? Bora levar um som nesse frio?” Foram as quatro perguntas feitas por um amigo que me tiraram daquele frio, antes implacável e agora bastante amigável. Tudo termina em pizza, vinhos e samba.
2ª noite – frio e perspectivas
Sexta-feira, dia 10 de Junho, são onze e quinze da manhã e sou tomado por uma sensação positiva – era o primeiro dia que o sol voltara a brilhar depois de merecidas férias no Japão. A frente fria estacionada sobre Bauru parecia tão implacável quanto sua criação, o frio. Era tempo de expandir os horizontes!
Com isso em mente e bastante cansado de olhar para as novas paredes brancas da sala de casa, peguei o carro – já na reserva – e comecei a dirigir em busca de paisagens e campos. O frio já não podia mais me parar, minha vontade vencia a falsa sensação de acolhimento causada por ele. Foi a primeira vez que a máxima fajuta “O frio é psicológico” fez sentido para mim…
Já no campo, mais especificamente no pasto, nos arredores de Bauru, sentido Piratininga, surge um brinquedo juvenil que me faz esquecer de tudo, inclusive do frio. Uma viagem nostálgica recomendada a todos! O brinquedo em questão era uma pipa que provavelmente caiu ali depois de um caloroso embate nos céus bauruenses, o popular rélo.
Descobri que um bom aliado contra o frio está localizado em atividades simples ligadas a ambientes abertos, empinar pipa é uma boa pedida. Clubes, campos, sítios e pastos são lugares onde essa nobre arte pode ser praticada sem perigo. Eu recomendo os pastos facilmente alcançáveis seguindo a Av. Comendador José da Silva Martha sentido Piratininga, via estrada de terra. Lugar pacato e amplo…
3ª Noite – abrem-se as janelas…
Abrem-se as janelas, mas a chuva não entra! Essa frase resume a batalha constante travada com o clima frio e chuvoso bauruense no primeiro dia do final de semana. Parece brincadeira ou ironia do destino, mas o céu bauruense começou o final de semana disposto a não entregar os pontos. A chuva começou a cair e, com isso, o frio voltara bater à porta do morador bauruense mais uma vez.
Embora fossem seis e meia da tarde no relógio, os céus de Bauru se mostravam adiantados no tempo e já pareciam estar pelo menos umas duas horas à frente. Os tons escuros tomaram conta dos céus, nesse dia não se viam estrelas.
Lá pelas onze e meia da noite, saio de casa com duas blusas sobre o corpo e a vontade fazer algo. Passei o pano na cidade inteira e descobri boas pedidas para quem quer mexer o esqueleto no frio também. O primeiro lugar que me veio à mente foi o tão famoso e já famigerado quadrado das bermudas bauruense, localizado numa de suas avenidas mais célebres, a Duque de Caxias. Bares alternativos como o Exílio são interessantes lugares para afastar o frio – os drinks e a música pesada podem ser aliados, além da aglomeração.
Outros lugares em que vimos algum tipo de calor humano eram destinados a festas, baladas – as pessoas gostam de se sentir próximas no verão e, principalmente, no inverno. Naquela noite de sábado não foi diferente. Saí do Exílio com uma grande impressão de que o inverno ou o frio que Bauru nos apresenta não é nada perto do fator de sociabilidade que guia o homem. Aliás, foi esse fator que nos fez sair de casa naquele dia frio e nebuloso.
4ª noite – frio e perspectivas II
Depois de todos esses dias lidando com o clima bastante ameno, o domingo veio como uma espécie de divisor de águas para afastar de vez o clima frio que assolava Bauru há semanas. Apesar dos domingos serem reservados para almoçar em família ou em grupo, optei, mais uma vez, por voltar a expandir os horizontes e aproveitar o último dia do final de semana fora de casa.
Retornei ao campo, mas dessa vez não fiquei tanto tempo com a pipa no ar. No caminho de volta pra casa me veio a sensação de que o frio já não incomodaria mais nos próximos dias. Na noite de domingo, a porta, diferente dos outros dias, ficou escancarada e com isso entraram não só o frio, mas também amigos que se reuniam para acompanhar um jogo de futebol.
A grande questão que envolve o mérito de por que sair no frio a noite pode ser uma experiência boa vai muito mais além das baixas temperaturas. Aliás, a temperatura, apesar de parecer fator de decisão nesses dias frios, é muito menos determinante do que as nossas próprias convicções e vontades nesses dias. É inegável que o frio sensualize as pequenas coisas e torne outras tarefas quase impossíveis. A grande questão é: você ficará em casa com ele ou irá sair para pegá-lo?
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Reportagem: Vinícius Cabrera
Produção multimídia: Rodrigo Berni
Edição: Adriana Kimura