Projetos sociais em Bauru promovem a inclusão social
Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais e Projeto Futuro possibilitam a prática esportiva e a eventual participação de deficientes em competições regionais e nacionais
Seja através de iniciativas privadas ou públicas, o esporte é um importante instrumento para a inclusão social. Inclusão de gêneros, classe sociais, deficientes físicos, etc. Em Bauru, pode-se encontrar alguns bons exemplos de como o esporte pode propiciar melhora na qualidade de vida e oportunidades. Na Unesp, há os projetos Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais, GoalBall – Esporte Paralímpico (para deficientes visuais) e Roda-viva, o basquetebol em cadeira de rodas. Existem também, resultados de iniciativas privadas, o Projeto Futuro, aliado à Associação Bauruense de Desportos Aquáticos, e a Associação Nova Era de Tênis de Mesa de Bauru.
Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais
Atrelado à Faculdade de Ciências da Unesp Bauru, o projeto Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais foi criado em 1996, pelo professor Milton Vieira do Prado Junior.
Na época, a disciplina de natação do curso de Educação Física da Unesp era ministrada na piscina da Sociedade de Reabilitação e Reintegração do Incapacitado (SORRI) – devido à falta de um complexo aquático no campus da universidade e à proximidade das duas instituições. Foi então que Milton Vieira percebeu que a piscina da SORRI era pouco utilizada pelos próprios clientes da entidade de assistência social e iniciou o projeto Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais, como forma de retribuir o auxílio da SORRI à Unesp.
Segundo Milton, a ideia era realizar “um trabalho para adaptação ao meio líquido e iniciação dos estilos”, já que “a natação é o esporte mais indicado para criar novas possibilidades de movimentos para os deficientes físicos”. No entanto, a piscina da SORRI não era ideal – em razão da falta de aquecimento da água – e, para possibilitar o melhor desenvolvimento do projeto, a Unesp selou parcerias com academias de natação de Bauru.
A partir de 2012, quando foi inaugurado o Laboratório Didático de Esportes Aquáticos, no campus da Unesp, as aulas do projeto passaram a ocorrer dentro da universidade. O projeto que já contou com quatro bolsistas da Unesp, hoje conta com apenas um, o que limita o número de alunos deficientes: “a quantidade de deficientes atendidos pelo projeto depende da quantidade de bolsistas que participam comigo no desenvolvimento das atividades”, informa o coordenador do projeto, Milton Vieira.
Milton também esclarece que não há restrições a nenhum tipo de deficiência: “atendemos todos os tipos deficientes. Já tivemos deficientes auditivos, visuais e, atualmente, estamos trabalhando com uma maioria de alunos com paralisia cerebral e deficiência física”. Apesar de o principal objetivo do projeto ser a melhora na qualidade de vida dos participantes, eles também são estimulados à prática esportiva em competições: “não queremos que o aluno apenas aumente sua qualidade de vida. Nós também abrimos a possibilidade para o esporte adaptado”, explica Milton.
Orgulhoso com os resultados obtidos através do projeto idealizado por ele, Milton Vieira revela: “nos últimos Jogos Regionais, dois alunos nossos, vinculados ao projeto, ganharam medalhas representando uma cidade da região de Bauru” e completa: “um deles teve uma guinada em sua vida. Hoje ele se locomove sozinho pela cidade e até comprou um carro adaptado”.
Hoje, o projeto Natação para Pessoa Portadora de Necessidades Especiais mantém a parceria com a SORRI, mas não se limita a ela: “o projeto tem uma parte ligada à SORRI, mas também atende pessoas com deficiências da comunidade bauruense que procuram diretamente a Unesp”, afirma Milton. Para participar do projeto basta entrar em contato com o Departamento de Educação Física da Unesp, pelo telefone (14) 3103 6082, e agendar uma avaliação com o professor Milton Vieira do Prado Junior.
Projeto Futuro – Associação Bauruense de Desportos Aquáticos
Fruto da iniciativa privada, o Projeto Futuro, em setembro de 2010, abriu as portas para crianças dispostas à prática de pólo aquático e natação em Bauru. O rápido desenvolvimento logo chamou a atenção de profissionais e crianças da região. Poucos meses após a fundação do projeto foi necessária a criação da Associação Bauruense de Desportos Aquáticos (ABDA), para controlar a gestão de todo o sistema esportivo. Hoje, após quase cinco anos de funcionamento, o Projeto Futuro também disponibiliza aulas de atletismo, atende cerca de 2700 jovens e emprega 25 funcionários.
O projeto que atende majoritariamente crianças de baixa renda, propicia as chamadas “escolinhas”- ou fase de aprendizado – para as crianças iniciantes, aulas de aperfeiçoamento para os que já estão habituados com os esportes e treinamentos para as equipes de alto rendimento, para a disputa de competições regionais, estaduais e nacionais. Todas as aulas são integralmente gratuítas e os jovens contam com serviços de assistentes socais, psicólogo, fisioterapeuta e alguns recebem auxílio transporte, alimentação e até bolsas escolares. O sucesso é tanto que há listas de espera para se inscrever no projeto.
Victoria Brison e Sabryna Barros, ambas com 14 anos, conheceram o Projeto Futuro através de outros projetos sociais, começaram nas aulas da “escolinha” de natação e hoje fazem parte da equipe sub-15 de pólo aquático feminino. Victoria conta que está confiante para os campeonatos do segundo semestre de 2015 – Copa Brasil e Campeonato Brasileiro de pólo aquático -: “temos muitas chances de ganhar na categoria 2000, nosso time está muito forte”.
O Projeto Futuro também conta com a equipe de Pessoas com Deficiências (PCD’s), que é totalmente voltada para competições. Daniel Pestana faz parte do Projeto Futuro desde a sua fundação, em 2010, e é técnico dos PCD’s. Ele diz que os profissionais da ABDA são capacitados para o trabalho com deficientes e elogia a organização do projeto: “nós começamos com três atletas deficientes e já crescemos muito, devido à forma como está sendo conduzido o projeto. Hoje, nós temos um atleta campeão nacional e beirando o índice paralímpico”.
O atleta em questão é Lucas, de 22 anos, que também está no projeto desde o seu início. Lucas nasceu com paralisia cerebral e pratica natação desde os seus oito anos de idade: “a natação me ajuda no dia a dia, para andar, na mobilidade, tudo melhora”. Em 2008, ele começou a treinar em alto nível e, hoje, está entre os melhores nadadores paralímpicos do país nas provas de 50 e 100 metros livres: “meu foco é nadar o Aberto de Natação em 2016 e, a partir dessa competição, posso conseguir índice até para as Paralímpiadas”.
Ricardo Vitório, de 32 anos, é educador físico e está no Projeto Futuro há 4 anos. Ele foi jogador de futebol profissional e teve contato com a natação após sofrer a amputação da perna esquerda, como consequência de um acidente de moto. Ricardo, que nada os 50, 100 e 200 metros livres, além dos 200 metros medley, acredita que, como a equipe de deficientes é de alto nível competitivo e não de iniciantes, a relação entre atletas e técnicos é mais fácil. Ele também exalta o Projeto Futuro: “vou dizer sem medo de errar: o Projeto Futuro é um dos mais elaborados do Brasil, pela organização, estrutura e pelo investimento que é feito. É fora do comum, não só na natação para pessoas com deficiências, mas também com as crianças”.
Reportagem: Vitor Almeida
Produção Multimídia: Lívia Lago
Edição: Mariana Amud Fernandes
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