O amor a um “match” de distância (ou não)
O celular faz parte da vida das pessoas. Via smartphones, as pessoas se relacionam, expõem seus interesses, fazem compras, marcam compromissos. Embora seja uma relação online, trata-se de uma extensão das atividades cotidianas realizadas no plano offline. Conhecer potenciais parceiros românticos e sexuais faz parte disso.
Tinder, OkCupid, Lovoo são alguns dos exemplos dos aplicativos que têm facilitado a busca por encontros. O Tinder, mais famoso entre eles, já conta com dez milhões de brasileiros. O aplicativo funciona da seguinte forma: há um catálogo de pretendentes geograficamente próximos a você. Gostou? Empurre a foto para a direita. Se não gostou, para a esquerda. Quando a outra pessoa também te acha interessante, dá “match” (combinação, em inglês), e se abre uma janela de bate-papo. No perfil de cada pessoa é possível ver até seis fotos, amigos e interesses em comum e uma breve descrição.
Há um tom mais leve nas interações via aplicativos de relacionamento. Sem algumas das pressões e riscos do contato que ocorre no plano offline. Segundo Larissa Pelúcio, professora de antropologia e pesquisadora dos temas Mídias Digitais, Gênero e Sexualidade da Unesp Bauru, esses dispositivos permitem que se entre em um plano de intimidade muito rapidamente.
“O que diferencia é que muitas vezes a gente vai falar coisas no online, vai escrever, vai mostrar, que nós não faríamos num primeiro momento no off. E muitas vezes quando se vai para o off hoje em dia, a gente sabe bastante já sobre os gostos, os interesses dessa pessoa”, completa Larissa.
Nem sempre as conversas via aplicativos resultam em um encontro presencial, o que não torna as interações a partir de aplicativos como o Tinder menos reais. “O que acontece no virtual é muito real. A gente chora, a gente se apaixona, a gente briga, a gente combina um monte de coisa que vai acontecer no off. São mundos interligados e conectados”, avaliou a pesquisadora.
Amor de Tinder sobe a serra? (Ou o plano off-line, no caso)
Talita Miyuki, 30, que conheceu o namorado pelo Tinder, fala da facilidade que esses aplicativos permitem. “A minha impressão é que a gente foi desaprendendo a paquerar pessoalmente. Eu sou MUITO tímida, e no tinder eu consigo conversar e ‘curtir’ a pessoa. Pessoalmente, não sei chegar em ninguém”.
Há, no entanto, alguns riscos também. “A gente sempre pode ser enganada. Além disso, a pessoa pode estar falando com a gente e com mais várias outras pessoas. Isso é complicado, porque depois pode rolar insegurança”, completou Talita.
“Já saí com caras do Tinder. Inclusive estava com um deles agora há pouco [risos]. Namoro sério nunca aconteceu, a maior parte das vezes durou uns dois encontros, porque não rolou química mesmo. Com esse que estou saindo agora, já faz um mês”, contou Caroline Ando, 20, que também se preocupa com a falta de segurança desses aplicativos, mas afirma gostar da comodidade que eles permitem.
Tamirys Rodrigues, 22, que conheceu o namorado no fim do ano passado através do Tinder, faz uma comparação entre aplicativos de relacionamento. “Muito embora eu tenha conhecido meu namorado no Tinder, prefiro mil vezes o OkCupid. Não é como o Tinder, que é como um cardápio humano em que você vai mais ou menos com a cara e dá um ‘curtir’, lá no OkCupid você responde centenas de perguntas, faz testes aleatórios e, com base nisso, o aplicativo vai mostrando gente que tem coisas em comum, além da estrutura do perfil ser mais elaborada, dá realmente para você conhecer um pouco da pessoa”.
Seja como for, apps de relacionamento tornaram as interações – românticas, sexuais ou mesmo de amizade -, mais fáceis. O resultado disso são, senão relacionamentos sérios, ao menos conversas engraçadas:
E aí, deu “match”?
Reportagem: Nathália Rocha
Produção multimídia: Isabela Romitelli
Edição: Jonas Lírio