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Troca de bagagens: o intercâmbio e as universidades públicas

A internacionalização do ensino ganha força em instituições estaduais e federais

Ser um cidadão do mundo, viver sem fronteiras, explorar novos territórios: são inúmeros os slogans que falam sobre o fenômeno da globalização e seus impactos na vida em sociedade. Além de conduzir o mercado financeiro, os acordos políticos e o desenvolvimento tecnológico, cultural e social, a globalização também é uma das grandes responsáveis pela troca de conhecimentos técnicos e científicos. Com as universidades públicas a situação não é diferente. Desde a década de 1980 o Brasil tem estreitado relações com outros países através de acordos para programas de mobilidade.

Os chamados intercâmbios acadêmicos, apesar de existirem em diferentes fases, têm maior força entre estudantes e professores da graduação e da pós-graduação. Os programas envolvem tanto a mobilidade de estudantes brasileiros quanto a recepção de estrangeiros que desejam estudar em universidades nacionais. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o órgão geral responsável pela internacionalização – ou seja, pela interação por meio do ensino, da pesquisa e da extensão – é a Assessoria de Relações Externas(Arex), que atua em cada câmpus junto ao Escritório Regional de Apoio à Pesquisa e Internacionalização (Erapi).

Rodrigo Botton é assistente administrativo do Erapi da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação(FAAC) da Unesp de Bauru e explica que a quantidadae de programas de intercâmbios que a Unesp tem, ao longo de um ano, é muito grande. “Isso envolve desde programas internos até convênios externos, com participação e organização de outras universidades”, diz ele. Segundo Rodrigo, os editais de intercâmbio se concentram nos meses de abril, maio, agosto, setembro e outubro.

Quanto aos destinos visados pelos estudantes, Rodrigo aponta que nos intercâmbios com mais possibilidades, os países mais escolhidos são os europeus e os norte-americanos. “Por exemplo, no Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal, os destinos mais procurados são sempre Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, França, Austrália e Holanda”, relata. Quando se faz intercâmbio através das parcerias e convênios firmados pela Unesp, os destinos são, em sua maioria, países da América Latina, como Chile,  Argentina, Espanha e Portugal.

E o que essas pessoas que vão estudar no exterior trazem de retorno para a Universidade? “De forma geral, não temos essa política de ‘o que o aluno vai trazer pra Universidade no retorno’. Ainda está sendo trabalhado porque na Unesp a internacionalização é nova. Estamos achando uma melhor forma de cobrar do aluno pra trazer esse retorno”, conta Rodrigo. Ainda segundo ele, os intercâmbios refletem o objetivo da internacionalização da Universidade, que visa levar o nome da Unesp ao exterior, através dos bons alunos, e trazer novas parcerias, como o intercâmbio de docentes e funcionários. “Realmente é uma troca de cultura e de práticas, uma celebração de novos convênios, de novas oportunidades. Uma forma de crescer dentro do âmbito da pesquisa, do ensino e também da extensão”, finaliza.

A modalidade de “graduação-sanduíche” para o ensino superior é aquela em que o universitário realiza um período da faculdade em outro país. A realização de intercâmbio, além da valorização do curso e do futuro profissional dos alunos, também possibilita a vivência internacional, o contato com culturas diferentes e a prática intensiva de outro idioma.

Lançado em julho de 2011, o programa federal Ciências Sem Fronteiras se tornou um dos mais populares projetos de mobilidade acadêmica. De acordo com o site oficial, ele “prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação”. Diversos bolsistas foram contemplados pelos editais, entre universidades privadas e públicas, e tiveram a oportunidade de estudar em instituições de ensino de todo o mundo.

Isabella Suzuki, estudante do curso de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fez parte do programa Ciência sem Fronteiras e foi para o Canadá, país onde morou durante 16 meses, 4 deles aplicados em um curso de inglês e 12 em atividades acadêmicas e estágio. “Estudei na University of Toronto e a recepção foi maravilhosa”, conta ela, que recebeu uma palestra de boas vindas e orientações ao chegar na universidade.

A respeito das disciplinas que estudou no exterior, Isabella comenta que nos primeiros meses optou pelas que renderiam equivalência – processo através do qual se “substitui” a carga horária de uma disciplina da universidade de origem por uma da universidade de destino – com a grade da Unicamp. “Mas no segundo semestre percebi que essa estratégia não era muito eficiente, então procurei fazer disciplinas completamente diferentes das que eu tinha no Brasil, como patentes em medicina, biotecnologia”, explica. Para ela, cursar matérias distintas e entrar em contato com conteúdos novos é uma chance de aprendizado muito maior, em especial quando se trata de temas menos trabalhados no país de origem.

 

Muitas críticas voltadas ao Ciências Sem Fronteiras se referem a estudantes interessados em viajar pelo turismo e não pelos estudos. De acordo com Isabella, alguns dos contemplados correspondem ao estereótipo, “mas tem muita gente séria lá fora fazendo trabalho bom”. A estudante realizou um estágio em Imunologia no Sunnybrook Research Institute com um professor associado à University of Toronto e considera esta a melhor experiência de seu intercâmbio. “Além de conhecer como a ciência era desenvolvida no país, pude conviver com pesquisadores que me ensinaram muito. A pesquisa no Canadá é desenvolvida e muito eficiente. Ter contato com a comunidade científica contribuiu bastante para meu amadurecimento acadêmico, e o maior ganho que trago para o Brasil é esta experiência” relata.

Quanto às vantagens do intercâmbio para as universidades públicas, Isabella acredita que se trata da importância das relações entre as instituições. “Ainda tenho contato com o grupo de pesquisa do qual fiz parte no Canadá e esse contato pode ser aplicado a projetos que desenvolverei futuramente em meu mestrado”, diz a estudante, que escolheu o objeto de pesquisa da pós-graduação a partir de uma sugestão do orientador canadense. “Muitas parcerias entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros são estabelecidas em congressos internacionais, mas acredito que o intercâmbio de alunos reforça e fortalece essas parcerias”, aponta ela.

Aaron Dellafina Cintra de Almeida, estudante do curso de Design da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru também fez um intercâmbio através do Ciência sem Fronteiras, e teve como destino a Universidade Politecnico di Milano, em Milão, na qual estudou durante um ano. Apesar de não ter realizado pesquisa na universidade de destino, Aaron aponta que o aprendizado adquirido durante a viagem é ampliado não só academicamente, mas também através da experiência de vida, que gera uma aplicação dos conhecimentos diferenciada e mais completa. “O intercâmbio nos mostra um novo mundo em diversos âmbitos. Tanto em experiência quanto em crescimento como pessoa, ele é uma experiência única e muito satisfatória”, conta ele.

O experiência de vida também é lembrada por Isabella, que, além da vivência acadêmica e do estabelecimento de relações profissionais, diz que o intercâmbio lhe trouxe crescimento pessoal: “Acredito estar mais preparada para encarar novos desafios”, finaliza a estudante.

Infográfico - intercãmbio

Depois de retornar para a Universidade de origem, os estudantes de intercâmbio precisam cumprir algumas burocracias.

 

Reportagem: Carolina Baldin Meira e Gabriela Baraldi Passy

Produção multimídia: Marina Rufo Spada

Edição: Laura Fontana Novo

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