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Crise econômica não impede carnaval bauruense

Apesar da crise econômica, a prefeitura conseguiu manter a festa, mas escolas de samba foram prejudicadas com a alta do dólar

Receber notícias sobre a alta do dólar não é mais novidade. Desde julho do ano passado, este é um assunto recorrente na economia. Comparando com o mesmo período de 2015, a moeda norte-americana subiu 58%. Os R$2,60 que o dólar custava há 1 ano pertencem a uma realidade completamente diferente da atual, quando já ultrapassa a barreira dos R$4,10.

 São poucos os setores do país que são beneficiados com a desvalorização do real. Para o consumidor brasileiro, dólar em alta significa aumento da inflação, e consequentemente redução do poder de compra. Se o cenário de crise atinge todo o país, não poderia ser diferente com a festa mais popular do ano, o Carnaval. Muito do material utilizado pelas escolas de samba são importados ou fabricados com produtos estrangeiros, o que, na atual cotação do dólar, se torna extremamente dispendioso.

Com a justificativa de investir o dinheiro em áreas que necessitem mais, as prefeituras de diversas cidades brasileiras optaram por não organizar o Carnaval 2016. Os estados de Minas Gerais, São Paulo e até Rio de Janeiro foram bastante afetados, cancelando ou reduzindo drasticamente o investimento público na área. Contrariando essa tendência, a cidade de Bauru, que já ficou 10 anos sem a festa (2001-2011), não só manteve o Carnaval como aumentou o repasse público em 5%, em relação a 2015.

reciclar materiais crise carnaval

Com a alta do dólar, Cartola passa a reciclar material dos carnavais anteriores (Foto: Bruna Malvar)

O Secretário da Cultura de Bauru, Elson Reis, explica a  opção: “Embora o investimento do carnaval seja alto (cerca de R$900 mil) – perante investimentos que necessitem ser feitos – não significa que vá resolver problemas. Se não houvesse carnaval, daria pra asfaltar 10 quadras da cidade, por exemplo. Resolveria o problema dessas 10 quadras, mas não resolveria o problema de asfalto em Bauru. Não é não ter o carnaval que vai resolver algum problema emergencial da cidade”.

Sobre o aumento da quantidade de verba, Elson explica que está relacionado a quantidade de escolas de samba participantes. Se em 2015 5 escolas receberam repasse da prefeitura, em 2016 foram 7. “Escola de samba tem direito a R$60 mil, bloco categoria especial R$15 mil e bloco originalidade R$ 3 mil. Com o aumento da quantidade de escolas, já imaginamos que teríamos um encarecimento na licitação”.  

O planejamento foi imprescindível para a realização da festa bauruense. “[A crise] Não deve atrapalhar os projetos da secretaria, pois trabalhamos com reservas. A Prefeitura de forma geral vem trabalhando com prudência, tivemos os cuidados de manter o orçamento do ano passado. Não só não inviabilizou o carnaval, como não deve atrapalhar nossas outras demandas”, afirmou o Secretário.

Vivendo o período financeiro de crise com o ponto de vista de consumidor, José Horácio Gonçalves, carnavalesco responsável pela escola de samba Acadêmicos da Cartola, afirma que com a alta constante do dólar, a solução encontrada para contornar a crise foi reciclar materiais utilizados em anos anteriores: “Temos que ver o que dá pra usar de novo: pluma, penas de pavão, isopor. Reciclar não é pegar lixo, é ver o material que dá pra usar de novo. Temos lantejoulas e galões guardados há mais de 10 anos”, segundo o carnavalesco, escolas com menos tempo de tradição devem ter sido bastante prejudicadas.

Horácio ainda falou sobre a crise financeira e os cancelamentos dos carnavais por todo o Brasil: “Graças a Deus que o nosso prefeito entendeu que tinha que ter o carnaval. O direito do carnaval é um direito conquistado. Não se tira nada da prefeitura, é dinheiro encaminhado da cultura. O povo precisa de carnaval. Apesar da dificuldade, se não tiver uma diversão, onde vamos parar?”.

O Secretário da Cultura também ressalta a importância financeira que o carnaval tem para a cidade de Bauru: “Diretamente não traz retorno financeiro pro município, mas são mais de 150 ambulantes trabalhando no sambódromo, por exemplo. Ou seja, são 150 famílias, fazendo dinheiro. Muitas escolas compram artigos no comércio bauruense, costureiras contratadas por elas também são locais. Circula economia criativa, o dinheiro gasto fica aqui em Bauru.  Talvez ainda não seja significativo a quantidade de pessoas que vem de fora e ficam em hotéis, por exemplo, mas existe o benefício maior das pessoas que desfilam e assistem”.

Carnaval , crise - Infográfico

(Arte: Gabriel dos Ouros)

Reportagem: Bruna Malvar
Produção Multimídia: Gabriel dos Ouros
Edição: Bheatriz D’Oliveira

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