A violência psicológica é uma realidade na vida de muitas mulheres ao redor do mundo. Identificar-se como uma vítima não é uma tarefa fácil, pois, alguns comportamentos já estão enraizados na sociedade, como o machismo, por exemplo. Mas, existem alguns fatores que ajudam nesta identificação e acima de tudo, profissionais, ações jurídicas e campanhas que auxiliam no combate à violência psicológica.
O psicólogo tem um papel fundamental por que ele trabalha na identificação e na forma como enfrentar esta situação de violência. Paloma Martins é psicóloga e desenvolveu um mestrado sobre violência doméstica contra as mulheres negras.
Ela explica que “conseguir identificar é o mais difícil, não pela violência subjetiva, mas por causa da forma como nossa sociedade é educada culturalmente. Nós já nos comunicamos de uma forma violenta, então achamos ‘ok’ alguém nos chamar de burras, ou nos colocar para baixo diante de algum erro”.
Ela também comenta que a sociedade já impõe à mulher que o ideal de felicidade é estar namorando, casando e tendo filhos principalmente com um homem e isso também contribui para a violência e para sua falta de reconhecimento, já que a mulher se submete a esta condição, porque foi algo imposto socialmente.
Com isso, a psicóloga afirma que “só conseguimos perceber a violência quando alguém nos alerta, ou quando a gente conhece pessoas diferentes que nos tratam melhor, aí nós podemos comparar as duas situações e ver que uma delas é bem estranha”.
Para se identificar o problema, são feitas várias conversas e entrevistas com a paciente. “Talvez a pessoa não reconheça que está passando por violência, mas perceba que está triste, deprimida, ansiosa. Aí conforme nós ouvimos os relatos em terapia, nós legitimamos o sofrimento da pessoa e depois temos que deixar muito bem marcado que o agressor não tinha direito de fazer o que fez. Esse é um dos pilares para se trabalhar com vítimas de violência: marcar que o que aconteceu foi errado e que elas não tinham culpa”, explica.
A psicóloga Kátia Villanova ressalta que “o trabalho terapêutico faz a mulher ter consciência desta violência subjetiva e se posicionar sobre isso. Ninguém pode se submeter ao outro porque isso é anulação e traz infelicidade. Com isso, a mulher começa a colocar os limites e começa a perceber: esta relação é saudável? Vale a pena continuar? É abusivo e nada vai mudar? Com as respostas, ela consegue tomar um posicionamento”.
A mulher tem ganhado espaços na sociedade, como um todo, inclusive no mercado de trabalho e isso é positivo no combate à violência psicológica. “A mulher ganha muito com o advento dela estar em diferentes locais de trabalho. Ela está batalhando pela igualdade e buscando o mesmo valor. Isso faz com que a mulher não dependa financeiramente do homem, levando também a uma não dependência emocional. Esta cultura ainda existe, do “eu tenho dinheiro, então eu mando”, argumenta Kátia.
Por fim, ela ressalta que vivemos em uma sociedade em “ transição” e que a educação é o principal fator que causa mudança e conscientização. “Talvez nossa geração esteja criando filhos melhores, mas ainda existe um grande caminho a ser trilhado, apesar de ser uma distância menor ” complementa.
A eficácia das políticas públicas
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 388.263 novos processos de violência doméstica surgiram em 2017, 16% a mais que em 2016. Isso mostra que as mulheres estão procurando mais a justiça para denunciar, o que representa um encorajamento da classe feminina.
Porém, o caso ainda é crítico, pois de 1.273.398 processos abertos até o final de 2017 apenas 5% deles tiveram andamento. Algumas leis foram criadas mas ainda há muita coisa que não funciona de forma prática. Apesar de tais políticas públicas ajudarem milhares de mulheres no país, muita coisa deveria sr trabalhada para trazer mais segurança e suporte para a mulher que sofre violência psicológica.
Márcia explica que falta muita organização governamental para legitimar as leis. “Vamos supor que em determinado município não há um abrigo para mulheres. Logo, esta mulher não vai ter para onde ir e assim ela não consegue se afastar do agressor. Isso vale para lugares onde não existe uma delegacia da mulher. Então a efetividade da lei vai depender de cada município” explica.
Por isso, outros tipos de iniciativas de combate à violência psicológica e conscientização acerca da violência contra a mulher são importantes. Desde 2015, equipes do Judiciário em conjunto com o Ministério Público criaram programas de prevenção, por meio da educação, que visam conscientizar áreas específicas, na qual várias pessoas do sexo masculino trabalham. A campanha tem como objetivo causar reflexão acerca da violência de gênero e diminuir a violência doméstica.
As orientações se pautam no CNJ por meio Portaria n. 15/2017, que instituiu a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no Poder Judiciário.
Ações de conscientização
Comissão da mulher advogada
Esta comissão, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) trabalha com o objetivo de garantir os direitos da mulher. As frentes de atuação em Bauru, envolvem o combate à violência psicológica e física, ações sociais voltadas à saúde, cidadania e educação familiar, direitos trabalhistas e empreendedorismo.
Além disso, a Comissão organiza palestras de conscientização sobre os tipos de violência que as mulheres podem sofrer. O conteúdo completo sobre esta comissão, pode ser acessado em Apresentação da comissão da mulher advogada.
Coletivo Mirarte
Formado por alunas de Artes Visuais, da Unesp/ Bauru, o projeto está aberto a todas as mulheres que desejam combater a violência e obter a igualdade de gênero por meio da arte.
Elas realizaram um questionário, que foi respondido por 533 mulheres com a seguinte pergunta: “Você já sofreu algum tipo de assédio ou violência em Bauru?” e em seguida: “Qual o tipo de violência/assédio você já sofreu?”. A pesquisa, realizada com mulheres de 17 a 21 anos, mostrou que 34% delas já sofreram agressão verbal ou psicológica.
De acordo com o coletivo, elas buscam evidenciar esse tipo de violência nas primeiras ações dando um espaço de fala para as mulheres contarem um pouco sobre alguma experiência constrangedora ou simplesmente desabafar. “Depois, espalhamos na cidade bauruense diversos cartazes contendo frases baseadas nesses depoimentos, e uma abordagem das diversas nuances sobre a violência psicológica” completam as mulheres do Mirarte.
O grupo acredita que o combate à violência psicológica acontece por meio de “um grande processo de desconstrução das atitudes machistas nos múltiplos meios sociais. O papel inicial, desempenhado pelo coletivo, foi o que poderíamos chamar de ‘atitude instantânea’, como uma forma de levantar a discussão sobre os casos de agressões, através de um banco de dados e transformando em cartazes pela cidade. Qualquer atitude do coletivo, por maior que seja, não vai solucionar um problema já enraizado culturalmente, mas são as diversas atitudes de mudança dos conceitos sociais que irão provocar uma nova percepção”.
Outras atitudes têm sido realizadas por meio de campanhas pelo país com o mesmo objetivo, mostrando que a educação aliada à conscientização, pode aumentar o respeito em relação à mulher em todas as áreas da sociedade.
Confira algumas campanhas relacionadas:
Repórter: Camila Gabrielle
Produção Multimídia: Gabriela Carvalho
Edição: Aressa Muniz
Foto de capa: Frase de efeito (Créditos: Banco de imagens)